Gabriel Carvalho
Após levar um valoroso tempo
tentando convencer Gabrielzinho a sair de casa, resolvi dar um passeio pela
maltratada Salvador. Na saída de casa, um dilema: ir ao Farol da Barra tomar um
sorvete e curtir o fim da tarde de Domingo de Páscoa naquele belo cartão-postal
ou ir até a Península de Itapagipe e mostrar para Sineia e o meu grande
herdeiro aquele lugar mágico onde vivi por quase uma década.
Sabia que Sineia preferia o Farol
(ela mais tirada a elitizada), mas segui os meus instintos e decidi ir até à
Cidade Baixa (é assim que os antigos moradores do Bonfim, Ribeira e Boa Viagem
chamam a região).
No caminho, Gabrielzinho
impressionou-se com o verde da avenida Luiz Eduardo Magalhães - Aliás, verde é
artigo de luxo na capital baiana – Em seguida, passamos pelo Largo dos Mares e
pude constatar uma grata surpresa. A igreja de arquitetura com características
góticas voltara a ter uma pintura decente, após uma tentativa de um terrível
verde-cana.
Bonfim
Igreja do Bonfim - Foto de Jotafreitas/Bahiatursa
Ao passar pelo Santuário de Irmã
Dulce, comecei a lembrar dos tempos de CPM (Colégio da Polícia Militar). Época
boa de transição da inocência para a maledicente adolescência, que culminou com
a minha expulsão sumária, após diversas suspensões, por diversos motivos.
Cruzamos toda a avenida Dendezeiros do Bonfim e até a Colina Sagrada, lembrei
das merendas numa lanchonete chamada Lua e daquela ardorosa caminhada diária do
colégio para casa.
A velha igreja estava lá e
lotada, como é de praxe nos dias de domingo. Os turistas também estavam à sua
porta, procurando o melhor ângulo para a foto que será guardada por algum
tempo, quiçá para a eternidade.
Beira-mar
Ponte do Crush - Foto de Crush em Foco
Depois que chegamos à avenida
Beira-mar, disse a Sineia que aquele era um dos lugares mais lindos que já vi,
inclusive mais que a sua querida Praia do Forte. Entretanto fiquei triste ao
ver como aquelas pessoas que lá frequentam estão acabando com uma das praias
mais majestosas do mundo. Além da sujeirada, uma poluição visual e
generalizada. Mesmo assim, a querida Ponte do Crush, imortalizada por meninos que como eu se atiravam dela no mar e também
por jornalistas e escritores como Diego Mascarenhas, estava lá com todo o seu
charme.
Mais adiante, uma sequência de
bares antológicos como o Catraia e outros que há décadas fazem a alegria de
ricos, pobres e milhares de pessoas que ali passam e já passaram. Do lado de
lá, onde fica o mar, estava o Clube Cabana do Bogary – lugar memorável, por
onde passei alguns momentos felizes da adolescência. Ainda hoje me recordo dos
“babas” disputados com amigos como David
Carvalho, que era um jacaré de Ribeira de primeira linha, Adriano Fialho (Cabelus), Cláudio, dentre
outros. O barulho da bola e aquelas tardes de terças e quintas ou segundas e
quartas de sol escaldante ainda parecem vivos e não tão distantes.
Ribeira
Praia da Ribeira - Foto de Rita Barreto/Setur
O passeio não foi completado até
a Igreja da Penha, pois o antigo Kassuá, bar onde rolava a grande seresta dos
domingos, agora abriga uma casa de pagode (argh). Sendo assim, segui viagem
pela Igreja do Rosário e tentei passar pelo Beco do Candinho, onde moravam os
amigos Maxwell e Rafael (Seixas Luz), mas felizmente a rua estava fechada, pois
as crianças brincavam de quebra-pote e pau-de-sebo, coisa que eu pensava que
não mais existia.
Dei a volta e resolvi entrar pela
Rua Lélis Piedade, lugar que frequentei entre os anos de 1994 e 1998. Os
predinhos de três andares com apartamentos simpáticos com varanda ainda estão
lá. Mas os antigos moradores, provavelmente não. Nesse tour, ainda houve tempo
para passar pela Rua Domingos Rabelo e pela pracinha da Madragoa, onde no
passado comi pizzas, joguei bola e peguei vários ônibus.
Até breve
A viagem no tempo prosseguiu e o cenário era o Largo do Papagaio. Lembranças de lá,
tenho poucas, só a da bisavó de um antigo colega que morava em uma pequena
vila, em uma casinha de três cômodos. Depois do Papagaio, passei pela porta da
antiga casa da amiga Cecília Silva Castro, hoje Cecília Castro Gomes. De lá,
guardo a lembrança de uma grande amizade juvenil e também dos banquetes de
épocas festivas como a Semana Santa, Natal, dentre outras.
De volta à Rua Travasso de Fora,
dei uma passada pela porta de minha antiga casa, na Rua do Céu e literalmente
voltei no tempo ao ver os antigos vizinhos agora diferentes e providos de uma
responsabilidade hoje imposta pelo tempo e pelos filhos.
Lembrei também das padarias que
funcionavam na Rua Henrique Dias, dos colégios Mundo Infantil I, II, III e IV,
que hoje não existem mais, das patricinhas do Colégio São José e, (risos,
muitos risos), do dueto entre Maria Caroline Silva, no teclado e Ana Paula
Couto, no vocal, durante uma apresentação no Show de Talentos do Colégio
Análise. Neste mesmo evento, eu me caracterizei de Mamonas Assassinas e cantei
o Robocop Gay.
Como não lembrar de Adriana Costa que, com a ajuda da mãe, roubava do lixo, o espelho das provas que ainda seriam aplicadas e enchia o Fiat Uno de gente que ficava a subir e descer a Ladeira do Bonfim.
Como não lembrar de Adriana Costa que, com a ajuda da mãe, roubava do lixo, o espelho das provas que ainda seriam aplicadas e enchia o Fiat Uno de gente que ficava a subir e descer a Ladeira do Bonfim.
Depois desse nostálgico tour,
passei por lugares lindos, mas pouco marcantes em minha vida como a avenida
Contorno e o Farol da Barra.
3 comentários:
Gabriel, Gabriel...
Sorte nossa ter vivido uma época de tão boas lembranças.
Resgatar estes momentos de vívida alegria e perceber que estas emoções ainda nos pertencem nos transforma em pessoas especiais.
Eu sempre terei saudade dos meus amigos de infância, colégio. De todas as pessoas que passaram por minha vida, demarcando território e assegurando espaço intocável.
Ver que o tempo passa e só apura a saudade é verdade percebida nesse texto lindo!
Sei da realidade de suas palavras e compreendo/compartilho do mesmo sentimento.
Obrigada por mais essa lembrança!
Forte abraço!
Ana Paula Couto (sem dueto)
Que honra ser lembrada mesmo depois de tanto tempo e tanta distância... Lembro mto de vc tb, das maluquices e gargalhadas que davamos de vc... Saudades, amiguinho!
Bjs
Cecília Castro Gomes =)
Que bom que resolveram tirar aquela coisa horrorosa da Igreja dos Mares. Afinal uma Igreja com características estilo neogótico não pode ser nunca da cor de bloco de carnaval. Fiquei triste ao passar em fevereiro e ver aquele verde berrante. Sinto saudades da época em que morávamos no Bonfim e você ia me buscar na escola e ao invés de irmos para casa íamos pra ponte e eu ficava desesperada querendo ir embora você era abusado viu!!!! Te amo primo
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