domingo, 8 de abril de 2012

Um encontro com as lembranças


Gabriel Carvalho

Após levar um valoroso tempo tentando convencer Gabrielzinho a sair de casa, resolvi dar um passeio pela maltratada Salvador. Na saída de casa, um dilema: ir ao Farol da Barra tomar um sorvete e curtir o fim da tarde de Domingo de Páscoa naquele belo cartão-postal ou ir até a Península de Itapagipe e mostrar para Sineia e o meu grande herdeiro aquele lugar mágico onde vivi por quase uma década.

Sabia que Sineia preferia o Farol (ela mais tirada a elitizada), mas segui os meus instintos e decidi ir até à Cidade Baixa (é assim que os antigos moradores do Bonfim, Ribeira e Boa Viagem chamam a região).

No caminho, Gabrielzinho impressionou-se com o verde da avenida Luiz Eduardo Magalhães - Aliás, verde é artigo de luxo na capital baiana – Em seguida, passamos pelo Largo dos Mares e pude constatar uma grata surpresa. A igreja de arquitetura com características góticas voltara a ter uma pintura decente, após uma tentativa de um terrível verde-cana. 

Bonfim

Igreja do Bonfim - Foto de Jotafreitas/Bahiatursa

Ao passar pelo Santuário de Irmã Dulce, comecei a lembrar dos tempos de CPM (Colégio da Polícia Militar). Época boa de transição da inocência para a maledicente adolescência, que culminou com a minha expulsão sumária, após diversas suspensões, por diversos motivos. Cruzamos toda a avenida Dendezeiros do Bonfim e até a Colina Sagrada, lembrei das merendas numa lanchonete chamada Lua e daquela ardorosa caminhada diária do colégio para casa.

A velha igreja estava lá e lotada, como é de praxe nos dias de domingo. Os turistas também estavam à sua porta, procurando o melhor ângulo para a foto que será guardada por algum tempo, quiçá  para a eternidade.

Beira-mar

Ponte do Crush - Foto de Crush em Foco

Depois que chegamos à avenida Beira-mar, disse a Sineia que aquele era um dos lugares mais lindos que já vi, inclusive mais que a sua querida Praia do Forte. Entretanto fiquei triste ao ver como aquelas pessoas que lá frequentam estão acabando com uma das praias mais majestosas do mundo. Além da sujeirada, uma poluição visual e generalizada. Mesmo assim, a querida Ponte do Crush, imortalizada por meninos  que como eu se atiravam dela no mar e também por jornalistas e escritores como Diego Mascarenhas, estava lá com todo o seu charme.

Mais adiante, uma sequência de bares antológicos como o Catraia e outros que há décadas fazem a alegria de ricos, pobres e milhares de pessoas que ali passam e já passaram. Do lado de lá, onde fica o mar, estava o Clube Cabana do Bogary – lugar memorável, por onde passei alguns momentos felizes da adolescência. Ainda hoje me recordo dos “babas” disputados com  amigos como David Carvalho, que era um jacaré de Ribeira de primeira linha,  Adriano Fialho (Cabelus), Cláudio, dentre outros. O barulho da bola e aquelas tardes de terças e quintas ou segundas e quartas de sol escaldante ainda parecem vivos e não tão distantes.

Ribeira

Praia da Ribeira - Foto de Rita Barreto/Setur

O passeio não foi completado até a Igreja da Penha, pois o antigo Kassuá, bar onde rolava a grande seresta dos domingos, agora abriga uma casa de pagode (argh). Sendo assim, segui viagem pela Igreja do Rosário e tentei passar pelo Beco do Candinho, onde moravam os amigos Maxwell e Rafael (Seixas Luz), mas felizmente a rua estava fechada, pois as crianças brincavam de quebra-pote e pau-de-sebo, coisa que eu pensava que não mais existia.

Dei a volta e resolvi entrar pela Rua Lélis Piedade, lugar que frequentei entre os anos de 1994 e 1998. Os predinhos de três andares com apartamentos simpáticos com varanda ainda estão lá. Mas os antigos moradores, provavelmente não. Nesse tour, ainda houve tempo para passar pela Rua Domingos Rabelo e pela pracinha da Madragoa, onde no passado comi pizzas, joguei bola e peguei vários ônibus.

Até breve

A viagem no tempo prosseguiu  e o cenário  era o Largo do Papagaio. Lembranças de lá, tenho poucas, só a da bisavó de um antigo colega que morava em uma pequena vila, em uma casinha de três cômodos. Depois do Papagaio, passei pela porta da antiga casa da amiga Cecília Silva Castro, hoje Cecília Castro Gomes. De lá, guardo a lembrança de uma grande amizade juvenil e também dos banquetes de épocas festivas como a Semana Santa, Natal, dentre outras.

De volta à Rua Travasso de Fora, dei uma passada pela porta de minha antiga casa, na Rua do Céu e literalmente voltei no tempo ao ver os antigos vizinhos agora diferentes e providos de uma responsabilidade hoje imposta pelo tempo e pelos filhos.

Lembrei também das padarias que funcionavam na Rua Henrique Dias, dos colégios Mundo Infantil I, II, III e IV, que hoje não existem mais, das patricinhas do Colégio São José e, (risos, muitos risos), do dueto entre Maria Caroline Silva, no teclado e Ana Paula Couto, no vocal, durante uma apresentação no Show de Talentos do Colégio Análise. Neste mesmo evento, eu me caracterizei de Mamonas Assassinas e cantei o Robocop Gay.

Como não lembrar de Adriana Costa que, com a ajuda da mãe, roubava do lixo, o espelho das provas que ainda seriam aplicadas e enchia o Fiat Uno de gente que ficava a subir e descer a Ladeira do Bonfim.

Depois desse nostálgico tour, passei por lugares lindos, mas pouco marcantes em minha vida como a avenida Contorno e o Farol da Barra.


3 comentários:

Ana Paula disse...

Gabriel, Gabriel...

Sorte nossa ter vivido uma época de tão boas lembranças.

Resgatar estes momentos de vívida alegria e perceber que estas emoções ainda nos pertencem nos transforma em pessoas especiais.

Eu sempre terei saudade dos meus amigos de infância, colégio. De todas as pessoas que passaram por minha vida, demarcando território e assegurando espaço intocável.

Ver que o tempo passa e só apura a saudade é verdade percebida nesse texto lindo!

Sei da realidade de suas palavras e compreendo/compartilho do mesmo sentimento.

Obrigada por mais essa lembrança!

Forte abraço!
Ana Paula Couto (sem dueto)

Anônimo disse...

Que honra ser lembrada mesmo depois de tanto tempo e tanta distância... Lembro mto de vc tb, das maluquices e gargalhadas que davamos de vc... Saudades, amiguinho!
Bjs
Cecília Castro Gomes =)

Dayse Falcão disse...

Que bom que resolveram tirar aquela coisa horrorosa da Igreja dos Mares. Afinal uma Igreja com características estilo neogótico não pode ser nunca da cor de bloco de carnaval. Fiquei triste ao passar em fevereiro e ver aquele verde berrante. Sinto saudades da época em que morávamos no Bonfim e você ia me buscar na escola e ao invés de irmos para casa íamos pra ponte e eu ficava desesperada querendo ir embora você era abusado viu!!!! Te amo primo