Os baianos que vivem em Salvador e têm renda de até
um salário mínimo trabalham o equivalente a 13 dias por ano, ou mais de um dia por
mês, somente para o custeio de remédios e produtos óticos, segundo levantamento
do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE).
Pode parecer pouco, mas a pesquisadora Érika
Aragão, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia
considera o valor alto, principalmente entre os trabalhadores com renda
familiar mensal de R$ 622,00. “A cifra desembolsada com remédios representa
3,72% do orçamento e poderia ser aplicada em outros itens como alimentação e
lazer”, analisa Aragão.
Um dos fatores responsáveis pelo alto custo de
medicamentos em países como o Brasil é o fato de o mercado destes componentes
ser protegido por patentes, o que também gera um monopólio temporário da
pesquisa e restringe o acesso da maior parte da população. “Por isso, temos
discutido a inovação nessa indústria, uma vez que o mercado é fechado e
concentrador de renda. Além disso, pretendemos identificar oportunidades e
verificar como o país pode fazer esse enfrentamento”, disse.
Atualmente, cerca de 90% dos investimentos feitos
em pesquisa se destinam a apenas 10% da população mundial. Países como Estados
Unidos, Inglaterra, Canadá, Japão, Alemanha, França e Itália demandam quase
toda a produção farmacêutica no mundo.
Outro dado relevante é a ausência de pesquisa na
área de doenças negligenciadas na América Latina como leptospirose, chagas,
dentre outras. “Já no mercado de oncologia, por exemplo, apenas uma empresa
controla 50% da fabricação dos medicamentos”, disse.
Alternativas
Para o pesquisador e pós-doutor em Métodos
Epidemiológicos Aplicados a Avaliação de Saúde pela Universidade do Texas e
integrante do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, Sebastião Loureiro, é
preciso conhecer melhor o universo dos medicamentos genéricos como saber a
qualidade e eficácia destes tipos de fármacos. “Também é preciso romper a
barreira do preconceito, pois muitas vezes o genérico é associado a algo de
baixa qualidade”, disse.
Outra alternativa, segundo os pesquisadores do ISC,
é a utilização do poder de compra dos governos, o que pode baratear o custo de
medicamentos, sobretudo os que estão concentrados em apenas um único
laboratório, como alguns remédios voltados para o tratamento do câncer.
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