sábado, 20 de outubro de 2012

Julgo que vale uma reflexão


Sineia Coelho*

Não sou moralista, não sou radical, não sou fanática, muito menos “baluarte da moral e dos bons costumes”. No entanto, a novela Avenida Brasil me pôs a pensar sobre os rumos que estão tomando a nossa sociedade.

A referida novela tem como atriz principal uma mulher na qual reuniu toda sorte de maldade e mau caratismo trazendo a tiracolo seu amante. O folhetim começa com ela casada com um senhor, que já tinha uma filha. A partir daí, ela e seu amante começam a cometer toda forma de maldade para se livrar dele e da menina e ficar com a herança de uma simples casa de periferia.

Na sequência,  ilude um ex-jogador de futebol de “sucesso” e se casa com ele. Constroem uma mansão onde se torna palco de todas  as maldades praticadas por ela e seu amante. Para facilitar,  ela tratou de casar o amante com a cunhada para ficarem todos debaixo do mesmo teto. Pegou o filho que havia abandonado no lixão como se fosse uma simples adoção, registrou a filha do amante como se fosse do marido.

Na sequencia, teve mentiras e mais mentiras,  dissimulações, obras sociais falsas, roubo, seguido de seqüestro do próprio marido, maus tratos à filha pequena e, não satisfeita, se desentendeu com o amante e tentou matá-lo. Aliás, quem atravessasse  seu caminho, poderia contar  com a morte.

Os outros núcleos são compostos de um homem fazendo malabarismo para enganar três mulheres, tratando-as como esposas, até chegarem à conclusão que o melhor seria todos morarem juntos, incluindo os filhos.
E em matéria de traição foi uma aula. Uma mulher que abandona marido e filho para se tornar atriz pornô, uma “piriguete” que ora estava com um, ora com outro, até destruir a carreira de uma promessa do futebol e no final ficar junto com os dois amigos, engravidar e tudo ser tratado de forma natural.

Uma mulher que se separa, arranja um namorado que passa a morar com toda a família, e se torna amante do ex-marido,  todos dentro da mesma casa.  E por ai vai, sem falar nas cifras que são tratadas na novela, ir ao banco e pegar R$500 mil para pagar pelo silêncio de alguém ou pela revelação de segredos , parece brincadeira, a coisa mais fácil do mundo.

Neste ínterim, surge uma “mocinha” com um coração transbordando de ódio e vingança e, em nome de se fazer  “justiça”, também se apodera de dinheiro alheio.  Sem contar o filho da empregada que também não vale um centavo, como diz na gíria.

Por último, um senhor pacato, de sorriso largo, que recupera brinquedos, surge como o pior vilão da história capaz de matar, roubar, sequestrar e abusar da própria filha, além de ter feito uma mulher que ele se dizia amar, sofrer anos na cadeia por um crime que ele cometeu.

Pois bem, essa NOVELA teve recorde de audiência, com índices variando entre 40 a 65%, é a hashtag mais comentada nas redes sociais. O país correu o risco de ter um apagão em função de todos os televisores estarem ligados para que o último capítulo seja assistido.

Até comícios importantes como o de São Paulo e Salvador, foram pautados de acordo com o término do último capítulo desta novela. Ou seja, nem mesmo o rumo de cerca de 14 milhões de brasileiros, moradores de duas importantes capitais do país; uma é considerada o centro financeiro do Brasil, não é tão importante quanto uma novela com todas as características listadas acima.

Ah! Já ia me esquecendo, na sexta-feira, em todos os meios de comunicação tinham matérias referentes ao folhetim. O Globo Repórter desta sexta será dedicado à novela. Sem contar que o assunto nas mesas de bares e restaurantes, dos mais simples aos mais sofisticados, o papo era referente à novela.

Ficam as perguntas: Quem somos nós? O que queremos? Qual moral temos para nos indignarmos e esbravejarmos contra os maus políticos e com outros acontecimentos chocantes da nossa sociedade?

* Sineia Coelho é jornalista

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