terça-feira, 9 de agosto de 2011

Uva o ano inteiro

Vale do São Francisco reúne o requinte das vinícolas com o lazer das praias fluviais e uma vida noturna agitada

Texto - Gabriel Carvalho

O céu azul, com excelente luminosidade, o solo fértil e água em abundância transformaram a região do Vale do São Francisco, localizada a 500 quilômetros de Salvador, entre o Sertão da Bahia e o Agreste Pernambucano, num dos maiores produtores de vinho do Brasil. Tais condições garantem que uma única vinícola, situada na cidade baiana de Casa Nova realize uma produção anual de 3 milhões de litros de vinhos (brancos e tintos, suaves e secos), brandies e espumantes.

De acordo com enólogos e especialistas em bebidas, nenhum lugar no país consegue reunir tantos requisitos para o cultivo das uvas que são responsáveis pela fabricação dos vinhos e derivados. Lá, os parreirais são expostos à luz durante mais de três mil horas por ano. Aliás, esses produtos hoje são consumidos no Brasil e no exterior, uma vez que a região já exporta quase um quinto de tudo o que é fabricado por lá. “Nós temos colheita o ano inteiro”, enfatiza o empresário Eurico Benedetti, da Miolo.

O potencial do Vale do São Francisco de produzir bebidas de qualidade levou os empresários do setor a apostar em um outro tipo de negócio: o turismo. Lançada como primeiro destino de enoturismo do Nordeste do país em 2009, a Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, já festeja a sua primeira colheita. A média anual de pessoas que visitam as instalações da vinícola da Miolo saiu literalmente do zero para uma média mensal de 1 mil visitantes e, animados, os dirigentes da fábrica apostam na duplicação deste fluxo no próximo ano.



Entre os visitantes, gente de Salvador, Recife, Fortaleza, João Pessoa, Campina Grande e mesmo os moradores do Sudeste e também franceses e italianos que apreciam um bom vinho.

Mesmo em plena caatinga, a Fazenda Ouro Verde possui traços em sua arquitetura e também em sua paisagem que em muito lembram o continente europeu. Isso faz com que os turistas que ali chegam nem reparem na temperatura que geralmente está acima dos 30ºC. Por traz da vinícola, há também uma bela visão do Rio São Francisco, o que é um grande deleite para os olhos.

No interior da fábrica, os visitantes – que pagam uma taxa de R$ 10 pela visita - acompanham todo o processo de produção dos vinhos, brandies e espumantes, desde a destilação até o engarrafamento e a embalagem. O passeio, que pode ser feito a qualquer época do ano mediante agendamento prévio, é monitorado por uma enóloga que explica cada procedimento e o visitante também pode fazer uma degustação em ambiente climatizado.

O fim da visita se dá numa loja que comercializa todos os itens ali produzidos. Além das bebidas, o turista pode adquirir bonés, camisetas, hidrantes feitos à base de uva, baldes de gelo e até embalagens mais sofisticadas. Caso adquira algum produto, o visitante recebe os R$ 10 de volta em forma de desconto na mercadoria que for adquirir.



Entre os produtos mais vendidos estão os proseccos e os espumantes de moscatel (esses são mais doces). Os gastos de cada turista variam entre R$ 70 e R$ 700. (www.miolo.com.br)

No início deste ano, o novo roteiro ganhou um reforço com a inauguração do Vapor do Vinho, uma embarcação que transporta os turistas pelo Rio São Francisco até o Lago de Sobradinho – segundo maior lago artificial do mundo – passando por uma eclusa da Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco (Chesf) e os levando até a vinícola.

Cultura, música e belezas naturais se completam

Se há um lugar no Nordeste que consegue reunir tão bem características como boa música, belas paisagens e aspectos culturais bastante diversificados esse lugar é o Vale do São Francisco. Tanto em Juazeiro, na Bahia, quanto em Petrolina, em Pernambuco, diversas expressões compõem um cenário dificilmente encontrado em outros lugares do Brasil.



Um dos principais ícones da história local é o Rio São Francisco, cantado em verso e prosa por artistas de diversas regiões nordestinas. Também chamado de Opará, como é conhecido pelos indígenas, ou popularmente de Velho Chico, o rio nasce em São Roque de Minas, na Serra da Canastra, no estado de Minas Gerais, a aproximadamente 1.200 metros de altitude, atravessa o estado da Bahia, fazendo sua divisa ao norte com Pernambuco, bem como constituindo a divisa natural dos estados de Sergipe e Alagoas, e, por fim, deságua no Oceano Atlântico, drenando uma área de aproximadamente 641 mil quilômetros quadrados e atingindo quase 3 mil quilômetros de extensão.

O Velho Chico apresenta duas áreas plenamente navegáveis e a maior está entre Pirapora, em Minas Gerais e Juazeiro, na Bahia, com cerca de 1.371 quilômetros de extensão. Na cidade baiana, as pequenas ilhas do Velho Chico são as principais opções de lazer dos fins de semana para os turistas e moradores locais. As ilhas da Amélia e do Rodeadouro contam com toda a infraestrutura necessária para receber os visitantes. No Rodeadouro, a aproximadamente 12 quilômetros do centro de Juazeiro, mais de 5 mil pessoas atravessam um pequeno trecho do rio para curtir a praia fluvial durante o fim de semana. A grande movimentação no local rende muitos lucros aos comerciantes que estimam a venda de 1 mil caixas de cerveja nos dias de sexta-feira, sábado e domingo.

Na praia é possível curtir um banho de rio refrescante nas águas do Velho Chico. A baixa temperatura da água minimiza o calor proporcionado pelo sol forte. Os que gostam de uma cervejinha também aproveitam para se refrescar no São Francisco.

Outras atrações imperdíveis na cidade são a Orla Fluvial, a escultura em homenagem ao Nego D’Água, que trata de uma lenda local e a réplica do Vaporzinho, antiga embarcação que fazia a travessia de Juazeiro para Petrolina e vice-versa antes da construção da Ponte Presidente Dutra.

Em Petrolina, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, que é a Catedral do município, é uma das atrações turísticas mais visitadas da região.

O Centro de Cultura e Arte Ana das Carrancas, que leva o nome de uma grande artesã pernambucana também recebe milhares de visitantes por ano. Ana ficou muito conhecida pela arte de esculpir carrancas, criatura em forma humana ou animal, utilizada pelos pescadores a princípio na proa das embarcações que navegam pelo rio São Francisco para espantar os maus espíritos.


Do lado baiano, as carrancas são esculpidas em madeira e são facilmente encontradas na Casa do Artesão, no Centro da Cidade. O espaço mantido pela prefeitura local reúne todo o tipo de artesanato regional e peças produzidas por artistas locais.

Ritmos – Imortalizadas pelo compositor Jorge de Altinho, as cidades de Juazeiro e Petrolina também foram abençoadas por Deus quando o assunto é música. Diversos nomes da MPB saíram das margens do São Francisco, tanto do lado pernambucano quando do lado baiano, e ganharam o mundo.

De Juazeiro, a filha mais ilustre do mundo da música é talvez a cantora Ivete Sangalo, que faz questão de cultivar a sua “juazeirice”. Na cidade, todos têm uma história engraçada da cantora. No bairro Country Club, onde os Sangalo moraram, o pai da artista foi homenageado com uma estátua.

Do lado pernambucano, dois nomes se destacam. O do cantor e compositor Geraldo Azevedo e o do baiano de coração Targino Gondim. Geraldo é autor de grandes sucessos como Dia Branco, Moça Bonita e Canta Passarinho e tem mais de três décadas de carreira.


Já Targino é um dos maiores divulgadores do forró em todo Brasil e ficou internacionalmente conhecido após uma de suas canções, Esperando na Janela, ser escolhida para a trilha sonora do filme Eu, tu, eles, de Andrucha Waddington.

Gastronomia e vida noturna também são atrativos

Um bom vinho sempre pede uma boa comida e é com esse mote que os restaurantes do Vale do São Francisco combinam as iguarias regionais com as bebidas produzidas nas vinícolas da vizinhança.

Segundo especialistas, o vinho tinto deve ser apreciado com as carnes de bode e de carneiro muito comuns na região. Os espumantes são ideais para serem degustados acompanhados de beijus salgados de tapioca. Já o vinho branco deve ser consumido com peixes, em especial o surubim, que é típico das águas do Velho Chico.

Por falar em culinária típica, a principal estrela da região é sem dúvida o bode, que pode ser consumido em diversos estabelecimentos. Um dos restaurantes mais antigos e conhecidos da região é o Papa’s, que fica próximo ao Country Club de Juazeiro. Servido no espeto e com deliciosos acompanhamentos como o aimpim frito, manteiga de garrafa, purê de aimpim, feijão verde e salada a vinagrete, o caprino, que tem baixo teor de gordura e colestorol, tem sabor parecido com o da carne de boi.

Para os que têm preconceito, um recado do próprio Papa, chef responsável pelo restaurante que leva o seu nome. “O segredo está no corte da carne e também na idade do bode. Os animais ideais para ir para a mesa são os mais novos, uma vez que os mais velhos são mais recomendados para a reprodução, pois a idade deixa o bicho rançoso”.

Pescado nas águas do Velho Chico, o surubim também deixa os visitantes com água na boca. O peixe é servido de diversas formas e uma das mais saborosas é a versão com molho de camarões que também são encontrados no Rio São Francisco.

Opções de lugares não faltam para a degustação dos pratos típicos do vale. Em Juazeiro, além do Papa’s que é especializado em bode e carneiro, há o restaurante do Grande Hotel, considerado um dos melhores da região.

Do outro lado da Ponte Presidente Dutra, na cidade pernambucana de Petrolina, está localizado outro grande centro de gastronomia da região. Conhecido como Bodódromo, o espaço situado na Avenida São Francisco conta com mais de dez restaurantes e ainda dispõe de área para shows musicais, quiosques e lanchonetes. O bode assado, o surubim e o carneiro são presença garantida nos estabelecimentos do local.

Agitos – Se a comida é muito boa, o mesmo pode-se dizer também da vida noturna de Juazeiro, uma das mais agitadas da Bahia. Na cidade que está localizada na divisa com Pernambuco, o Forró é o ritmo mais executado, mas outras tendências como o MPB, o Axé Music e o Pagode também fazem parte do repertório dos bares e casas noturnas da região.

Os principais points da cidade são o Armazém Café, o Depósito Dancing e o Country Club, onde todas as quintas-feiras rola o Forró do Mamãe não me Acha das 23h até a manhã do dia seguinte. A festa surgiu num período de férias escolares e universitárias e entrou para o calendário fixo da cidade devido ao sucesso de público.

As vaquejadas também agitam os finais de semana com muito forró e musica sertaneja. Os festejos, que lotam os parques situados na zona rural, começam já na quinta-feira e se estendem até domingo.

Em Petrolina, parte da vida noturna se concentra na Avenida Areia Branca, local que concentra muitos bares e restaurantes. Casas de show e espaços para a música eletrônica também estão no rol de opções da cidade pernambucana.

Serviço |

Onde Comer:

Macaxeira

Endereço: Rua Dr. Juvêncio ALves, nº06, Orla.

Tel.: (74) 3611-7237

Maria Bonita

Endereço: Travessa da Maravilha, nº140, Alto da Maravilha.

Tel.: (74) 3611-8439

Restaurante Bode Grill

Endereço: Av. Benedito Almeida de Moraes,s/n- Alto da Aliança.

Tel.: (74) 3613 - 2818

Restaurante Casa Antiga

Endereço: Rua Conselheiro Saraiva, nº08- centro.

Restaurante Picanha no Chiado

Endereço: Av. Adolfo Viana,s/n- centro

Restaurante Carcará

Endereço: Rua José Petitinga, nº466 - Santo Antônio.

Tel.: (74) 3612-3100

Fax: (74) 3612-7744

e-mail: lazar@netcap.com.br

Onde Ficar:

Grande Hotel de Juazeiro

Endereço: Rua José Petitinga, nº466 - Santo Antônio.

Tel.: (74) 3612-3100

Fax: (74) 3612-7744

e-mail: lazar@netcap.com.br

Como chegar:

Via terrestre

Acesso rodoviário partindo de Salvador pela BR-324 até Capim Grosso, entroncamento com a BR-116, a cerca de 30 quilômetros de Feira de Santana.

Transporte rodoviário - www.falcaoreal.com.br

Via aérea (Aeroporto senador Nilo Coelho - Petrolina)

Gol Linhas Aéreas – www.voegol.com.br

TRIP - www.voetrip.com.br

Avianca – www.avianca.com.br

Um comentário:

César disse...

Vê se manda um vinho desse pra mim, pô!!