domingo, 18 de maio de 2014

O dia em que o analógico venceu o digital



Gabriel Carvalho*

Domingo é sempre dia de acordar tarde, tomar café sem pressa e curtir a casa com a família, certo? Nem sempre. Para quem é pai de um garoto de nove anos, com uma baita energia e inteligência além do normal, fica meio difícil manter a rotina dominical.

O apelo já veio na sexta-feira:

- Pai, no domingo nós vamos para o Parque Júlio César (bairro de classe média de Salvador) para trocarmos figurinhas do meu álbum (da Copa do Mundo Fifa 2014).

Como o intervalo entre cada ficança com o pequeno Gabriel é de 15 dias, não hesitei em concordar com o menino e resolvi sacrificar algumas horas extras de sono.  Apesar de o compromisso ter sido marcado para o domingo às 10h, fui lembrado da incumbência ainda no sábado por diversas vezes.

Enfim, o domingo chegou e às 7h55 Gabrielzinho estava a me lembrar (mais uma vez) do compromisso que firmamos na sexta-feira. Tudo correu bem e até a Sineia, que leva horas em frente ao espelho com o secador de cabelo e trocentos acessórios de maquiagem, se arrumou rápido.

Chegamos pontualmente às 10h e lá na banca de revistas do Hélio, várias crianças nos aguardavam, certo? Nem tanto. Além dos garotos com idade entre 6 e 15 anos, haviam também jovens de 18, 20, além de diversos adultos e nem todos os adultos eram pais dos meninos e meninas. Alguns deles eram antigos colecionadores de álbuns da infância vivida nos anos 80 e 90.

Analógico x digital

A forma de colecionar álbuns e figurinhas é diferente em 2014, mas apesar de haver um livro de cromos virtual, todos ali no (Parque) Júlio César preferiam a versão de papel. Além disso, aquelas crianças e adolescentes naquele momento abriram mão de seus ipads, ipods, iphones e quaisquer outros tipos de “i”s.
Mas e na troca, o que há de diferente? O que existe agora é uma espécie de escambo, num formato de rodada de negócios de grandes feiras.

Pais, crianças e adultos colecionadores, sentavam-se à mesa para oferecer suas figurinhas repetidas em troca de outras não encontradas.  E aqueles que não encontravam cadeiras, gravitavam em torno das diversas rodas de troca.

E o rapaz da banca de revista? Ah, esse também vendia pacotes de figurinhas e promovia sorteios e mostrava atrativos para conquistar os clientes. Aliás, cada pacote fechado valia de uma a quatro figuras inéditas, a depender da raridade de cada uma.

E não foi só o baleiro que faturou vendendo figurinhas. Pais e filhos também comercializavam figurinhas usadas.

Nessa bagunça toda, alguém pode perguntar: como ninguém se perdia e como era a conferência das figurinhas para saber se não estava adquirindo mercadoria repetida? Ah, os garotos, pais e adultos colecionadores tinham as suas planilhas impressas ou escritas à mão para controlar a chegada e saída das figuras. Ah, para dizer que os dispositivos eletrônicos não estavam inseridos no contexto, existiam alguns almofadinhas fazendo esse controle de estoque com aplicativos nos smartphones.

Aliás, os smartphones nesse ambiente não estavam com essa bola toda não.

E se você quiser saber mais sobre os eventos de trocas de figurinhas, clique aqui.


*Gabriel Carvalho é publicitário, jornalista, professor e especialista em Assessoria de Imprensa e Redes Sociais.

Um comentário:

Ana Paula C. disse...

Gostei do texto. :D