Gabriel Carvalho*
Domingo é sempre dia de acordar tarde, tomar café
sem pressa e curtir a casa com a família, certo? Nem sempre. Para quem é pai de
um garoto de nove anos, com uma baita energia e inteligência além do normal,
fica meio difícil manter a rotina dominical.
O apelo já veio na sexta-feira:
- Pai, no domingo nós vamos para o Parque Júlio
César (bairro de classe média de Salvador) para trocarmos figurinhas do meu
álbum (da Copa do Mundo Fifa 2014).
Como o intervalo entre cada ficança com o pequeno
Gabriel é de 15 dias, não hesitei em concordar com o menino e resolvi
sacrificar algumas horas extras de sono.
Apesar de o compromisso ter sido marcado para o domingo às 10h, fui
lembrado da incumbência ainda no sábado por diversas vezes.
Enfim, o domingo chegou e às 7h55 Gabrielzinho
estava a me lembrar (mais uma vez) do compromisso que firmamos na sexta-feira.
Tudo correu bem e até a Sineia, que leva horas em frente ao espelho com o
secador de cabelo e trocentos acessórios de maquiagem, se arrumou rápido.
Chegamos pontualmente às 10h e lá na banca de
revistas do Hélio, várias crianças nos aguardavam, certo? Nem tanto. Além dos
garotos com idade entre 6 e 15 anos, haviam também jovens de 18, 20, além de
diversos adultos e nem todos os adultos eram pais dos meninos e meninas. Alguns
deles eram antigos colecionadores de álbuns da infância vivida nos anos 80 e
90.
Analógico x
digital
A forma de colecionar álbuns e figurinhas é
diferente em 2014, mas apesar de haver um livro de cromos virtual, todos ali no
(Parque) Júlio César preferiam a versão de papel. Além disso, aquelas crianças
e adolescentes naquele momento abriram mão de seus ipads, ipods, iphones e
quaisquer outros tipos de “i”s.
Mas e na troca, o que há de diferente? O que existe
agora é uma espécie de escambo, num formato de rodada de negócios de grandes
feiras.
Pais, crianças e adultos colecionadores,
sentavam-se à mesa para oferecer suas figurinhas repetidas em troca de outras
não encontradas. E aqueles que não
encontravam cadeiras, gravitavam em torno das diversas rodas de troca.
E o rapaz da banca de revista? Ah, esse também
vendia pacotes de figurinhas e promovia sorteios e mostrava atrativos para
conquistar os clientes. Aliás, cada pacote fechado valia de uma a quatro
figuras inéditas, a depender da raridade de cada uma.
E não foi só o baleiro que faturou vendendo
figurinhas. Pais e filhos também comercializavam figurinhas usadas.
Nessa bagunça toda, alguém pode perguntar: como
ninguém se perdia e como era a conferência das figurinhas para saber se não estava
adquirindo mercadoria repetida? Ah, os garotos, pais e adultos colecionadores
tinham as suas planilhas impressas ou escritas à mão para controlar a chegada e
saída das figuras. Ah, para dizer que os dispositivos eletrônicos não estavam
inseridos no contexto, existiam alguns almofadinhas fazendo esse controle de
estoque com aplicativos nos smartphones.
Aliás, os smartphones nesse ambiente não estavam
com essa bola toda não.
E se você quiser saber mais sobre os eventos de
trocas de figurinhas, clique aqui.
*Gabriel Carvalho é publicitário, jornalista,
professor e especialista em Assessoria de Imprensa e Redes Sociais.
Um comentário:
Gostei do texto. :D
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